"O Poder Judiciário ainda não se atentou para o fato de que é urgente a profissionalização de sua gestão a fim de aumentar a confiança da sociedade na Justiça". A constatação é de Luiz Cláudio Allemand, conselheiro e ouvidor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), além de um dos representantes da advocacia na entidade. Ele ministrou a palestra O Poder Judiciário e a sociedade participativa na era da informação, nesta quinta-feira, dia 1º, logo após a abertura do Colégio de Presidentes de Subseção que está sendo realizado em Cantagalo, Região Serrana do Rio. O evento vai até domingo.

Allemand se baseou em dados do relatório Justiça em números, publicado anualmente pelo CNJ. "O acúmulo no Judiciário é enorme. Se o fluxo de processos fosse interrompido hoje e a produtividade dos magistrados fosse mantida, demoraria três anos para que o acervo processual fosse zerado", explicou, antes de citar pesquisa (da FGV/Direto SP 2016) apontando que apenas 29% da população confia no Poder Judiciário, enquanto 45% (dos entrevistados) acredita que seus membros são corruptos.

Para ele, é preciso buscar imediatamente os motivos que resultam nas dificuldades enfrentadas. "Até agora, ninguém apontou a causa para esse acúmulo. Apenas 33% dos recursos que estão no STJ são de cidadãos contra cidadãos. O restante diz respeito a ações contra o governo, autarquias, bancos, concessionárias de serviços públicos e afins. É muito mais fácil e barato dever ao poder Judiciário do que prestar bons serviços à população. Não adianta criar regras processuais para impedir recursos e até o acesso dos cidadãos à Justiça para solucionar esse problema. É preciso aplicar gestão profissional", insistiu.

Allemand argumentou que, apesar de antiga, a questão pede um olhar contemporâneo. Ele explicou que as inovações tecnológicas geraram mudanças sociais ainda não completamente compreendidas. "Sociedade participativa é a que não se conforma apenas em votar, quer participar ativamente. Não apenas por meio de audiências públicas, mas especialmente com mobilizações organizadas por redes sociais. É aí que ela se junta à geração da informação, que cria riquezas por meio da tecnologia e também quer fazer parte do processo decisório", esclareceu.

Outro ponto abordado foi a velocidade das decisões e os atropelos que muitas vezes isso gera. Ele citou movimentos como a Primavera Árabe, as manifestações ocorridas no Brasil em 2013 e até os 'rolezinhos', passeios organizados por jovens em diversas cidades. "Hoje, graças à conectividade, qualquer ideia, mesmo as ruins, tem potencial para derrubar governos. Vivemos um momento de combustão espontânea no qual a sociedade questiona a todo tempo seus representantes. A cobrança aumentou e vai aumentar cada vez mais", destacou.

Finalizando, Allemand reafirmou a necessidade de profissionalização da gestão do Judiciário, sob pena de uma crise social sem precedentes. "Vivemos em uma rede criada para que prevaleça sempre sua vontade, seja como for, inclusive sem responsabilidade. A advocacia está cansando, e quem vai passar a fazer essa cobrança é a sociedade participativa na era da informação, assunto abordado por nós hoje. Ou abrimos um diálogo, ou a situação vai piorar muito", concluiu.